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Movo-me!

13/01/2012

Turma de Alfabetização de Adultos do Projeto Arrastão celebra fim do ano letivo; próximos passos já estão sendo sonhados por eles.

"Eu só errei uma continha na prova de matemática. Uma! Estou muito feliz".

A frase acima é de Maria de Lourdes Alves, 72 anos. Há pouco mais de 30 morando em São Paulo, Dona Maria é um das dezenas de rostos cheios de história que cruzam diariamente nossos portões em busca de um tempo perdido.

Um tempo que pode até ter levado a juventude, como elas dizem, mas nem por isso fez desses homens e mulheres menos ativos. Filhos e netos criados, eles resolveram sair de suas casas, trabalhos, enfrentar o cansaço e voltar a estudar. Os motivos? Os mais variados possíveis.

"Uma vez eu fui procurar um trabalho numa agência de emprego e a mulher que me atendeu pegou a minha carteira de trabalho e me falou que era muito boa, mas que eu só conseguiria o trabalho se tivesse o primeiro grau completo. Eu saí de lá nervosa com a situação e vim direto para o Projeto Arrastão buscar uma vaga. Quem me indicou foi a própria mulher que atendeu na agência", conta Dionice Almeida, 51 anos, que até então nunca havia ido numa escola formal. O motivo? Ela mesma explica. "Quando eu era criança não existiam escolas lá onde eu nasci, na Bahia. A gente aprendia tudo com quem sabia mais. Aprendi muita coisa errada, mas tenho que agradecer a essas pessoas, senão não saberia nada hoje, sabe", reconhece.

O Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos – MOVA, é uma parceria do Projeto Arrastão com a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. A iniciativa nasceu no fim dos anos 1980 para resolver um grande problema de analfabetismo, principalmente entre os migrantes, pessoas de todos os cantos do Brasil que vinham tentar a vida na cidade. Em muitas dessas cidades, como foi o caso de Dionice, não existiam escolas, e as pessoas acabaram não tendo a oportunidade de frequentar o ensino regular.

Pela parceria, o Projeto Arrastão oferece toda a infraestrutura necessária para criação dos grupos de estudo, que tem até 15 alunos e conta com aulas de, no máximo, 3 horas, quatro vezes por semana, enquanto o poder público se responsabiliza pelos custeios das despesas de funcionamento, além de uma bolsa auxílio aos educadores, geralmente da própria região, o que aproxima o aluno do professor. Professor que, inclusive, acaba virando ídolo com o passar do tempo.

"Eu sempre vou me lembrar do professor Sidiel. Quando eu entrei aqui eu não sabia escrever meu nome direito, me confundia com as letras. Agora eu já sei e devo isso muito a ele, que sempre teve muita paciência.", diz a sorridente Dionice.

E nem o derrame desanimou Dona Maria de Lourdes. A simpática e boa de conversa aluna da 5ª série do MOVA diz que, mesmo com as dificuldades de saúde, não perdeu tempo e quando sentiu que estava melhor, a primeira coisa que fez foi vir ao Projeto Arrastão retomar seu lugar na sala de aula. "Eu conversei com uma amiga porque queria fazer alguma coisa da minha vida. Aí ela me falou sobre o Projeto Arrastão e fiquei em dúvida: será que aceita senhorinha? Eu já tenho 70 anos de idade, né, não sou mais uma menina", brinca.

Maria de Lourdes prepara-se para alçar novos voos com uma energia e vitalidade incrível. Pelo desenho do programa de alfabetização, ao chegarem na quinta série os alunos são encaminhados às escolas próximas para continuarem seus estudos pelo EJA – Ensino de Jovens e Adultos. Esse é o caso de Dona Maria que além de mudar de escola, prepara-se para mudar de bairro, de vida. Irá deixar a casa no Campo Limpo para ir para a Zona Norte morar com a neta. "Estou toda feliz. Uma vida nova a essa altura, né?! E até já sei ler tudo daqui até chegar lá", fala enquanto solta uma gargalhada.

"Eu não entendo esses meninos novos que não querem estudar enquanto podem. Eu perdi todas essas oportunidades quando era jovem e agora estou tendo que correr atrás desse tempo perdido. Espero que eles entendam logo isso e não façam como eu fiz", finaliza Dionice.

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